29 de outubro de 2012

Para além de Vidas Secas – um projeto e tanto!




Esta semana, o escritor Graciliano Ramos faria 120 anos. Alagoano, nunca frequentou uma faculdade, foi revisor de dois jornais do Rio de Janeiro - “Correio da manhã” e “A Tarde”-  e foi prefeito em 1927. Ativista político, chegou a ser preso em 1936 sob a acusação de comunismo, e na prisão escreveu “Memórias do Cárcere” sobre a dura realidade brasileira. Realidade essa que fez parte de toda a inspiração de Graciliano na sua epopeia literária: fez parte do grupo de romancistas da década de 1930 caracterizada pela dureza na linguagem, pela visão crítica da sociedade.
Vidas Secas, publicada em 1938, foi a obra lida, discutida em sua temporalidade, no seu contexto histórico-social, em 2006 num projeto didático com as turmas do 2º ano, da então Escola Estadual de Itaparica, quatro anos antes da Referência. Injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca nos remete uma realidade não muito distante da nossa. Os personagens pareciam com alguém conhecido, a situação de pobreza e a busca por melhores condições de vida não estavam, naquele momento, distantes do cotidiano dos nossos estudantes. Imediatamente nos identificávamos com Fabiano. Em cada família, em cada membro das comunidades existia um Fabiano.
“ A mudança” estava presente na realidade de cada família, pois contávamos quantas pessoas tinham deixado seus filhos, esposas, namoradas aqui no sertão e viajado para o sul e sudeste do país em busca de melhores condições de vida. Como foi prazeroso identificar numa obra da nossa literatura tanta coisa de cada um que estava naquela sala de aula, dessa escola. O projeto nasceu dessa forma: se a nossa região tivesse condições de geração de trabalho e renda, as mudanças seriam mais raras. Os “Fabianos” permaneceriam aqui, seria um novo olhar, uma nova perspectiva sobre as mazelas sociais que assolam boa parte da população brasileira.
“Para Além de Vidas Secas” foi um projeto de esperança, de transformação de uma realidade, onde conseguimos encontrar alternativas de sobrevivência neste sertão árido, mas nosso. Conhecemos, visitamos e conversamos com o primeiro grupo de associação dos pescadores que trabalhavam no projeto de criação de tilápia. Boa parte destes pescadores, jovens, desistiu de migrar par ao sul do país em busca de subemprego, e se conservava em sua terra porque dali podia tirar seu sustento; outros jovens tinham retornado de outras regiões para onde teriam viajado em busca de emprego.
“Para Além de Vidas Secas” foi o espaço que construímos para conversar sobre as expectativas, perspectivas de futuro, foi a primeira experiência na pedagogia de projetos que tive com estudantes do ensino médio, e posso considerar que foi a mais significativa. Então, quero agradecer a Graciliano Ramos, por nos deixar fazer parte da construção destes  120 anos.



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