2 de setembro de 2014

Do you speak English? Yes, of course yes. O PGM leva mais três estudantes da EREM para o Canadá.



Sim,  eles falam inglês e por isso vão para o Canadá. São os intercambistas da Erem Maria Cavalcanti Nunes que embarcam neste mês para uma das maiores experiências que vão vivenciar em suas vidas, passar um semestre num país de língua estrangeira aprimorando o inglês. São eles: Naiquem Pilmayquen, Arlindo Feitosa e Fredson Felipe, todos estudantes do 2º ano do Ensino Médio.
Quando perguntados sobre a experiência e suas expectativas, uma cofusão de sentimentos une-se a um emaranhado de dúvidas e fica difícil de descrever o que estão sentindo, mas deixaram aqui no blog a tentativa de explicar o que está passando nestes corações.

Será que eles não têm medo? É claro que sim, tudo é muito novo. Fredson Felipe deve embarcar até o da 07 de setembro, as expectativas são grandes e o nervosismo começa a tomar forma, por isso descreve como se sente diante da possibilidade de encontrar um outro mundo, uma outra realidade:

"No começo de tudo eu sabia que a qualquer momento poderia surgir um pesamento negativo, que poderia surgir um talvez. Então me pus em uma esteia rolante, que não tinha volta, que apesar de qualquer coisa eu poderia cair, sem  ao menos tentar. E no final dessa esteira haveria uma porta, que definitivamente significava o talvez, o talvez negativo ou positivo. Aquela porta seria a certeza de deixar por algum tempo as pessoas que amo, mas que esperava como um sonho de criança, que finalmente seria realizado. Por trás daquela porta se encontra um mundo diferente, com pessoas diferentes, que não sei ao certo o que pensam, ou o que comem, se vou agradar. Só sei que preciso ser eu mesmo, e aprender sua língua e sua cultura."

Quem também embarca na próxima semana é Arlindo Feitosa, e como os outros intercambistas está ansioso pela viagem, pela experiência, mas com medo do que está à sua frente, o desconhecido. Entre um e outro encontro de despedidas, ele nos conta sobre seus sentimentos nestes dias de pré-embarque e como está se preparando para esta experiência grandiosa.

"No começo desse ano fiz a prova do intercâmbio, passei e no dia 07 de setembro devo estar embacando para o Canadá. Sabe aquela sensação de medo, misturada com a de alegria? É assim que estou me sentindo. Já estou perto de embarcar, ainda não conheço minha Host Family (muito ansioso para conhecer), minha mãe chora muito. Eu sei que é difícil pra ela a separação e a distância, mas sei que está muito feliz por minha conquista. Tenho medo do que vou encontrar, experimentar, da saudade que vou sentir de todos. Mas é uma conquista, um sonho que se tornou realidade e 6 meses passarão muito rápido."

Naiquem Pilmayquen já viajou, a esta hora deve estar  vivendo suas primeiras horas de adaptação num país estranho, numa cultura diferente, numa família que deverá ser sua até o final do intercâmbio. Conheceu sua host family antes de embarcar e já deixou muitas saudades.


"O Programa Ganhe o Mundo está  dando a chance de transformar  minha vida, como já fez com outros jovens estudantes. Eu vejo esse intercâmbio como uma oportunidade única de conhecer novas culturas, outras pessoas. Eu me sinto muito feliz em participar dessa experiência maravilhosa, e sei que essa conquista não é só minha, é de todos que estão sempre comigo, minha família, meus amigos, meus professores e todos os que fazem esse programa ter sucesso. Sou parte da família PGM e me orgulho disso."



Eis que os filhos de Petrolândia criam asas e voam para bem longe, onde os sonhos se tornam realidade, onde o sucesso espera por vocês. Mais uma vez o Programa Ganhe o Mundo leva estudantes do sertão pernambucano para o exterior e estamos felizes que a Erem Maria Cavalcanti Nunes tem sua representação neste embarque e em outros que virão. Sucesso meninos, uma boa viagem e quando retornarem tragam na mala mais conhecimento e muita riqueza cultural.

12 de agosto de 2014

Como entender o conflito entre israelenses e palestinos fácil, fácil com 5 perguntas essenciais.


Conta um colega de trabalho que uma moça encontrou o gênio da lâmpada, e foi logo dizendo que ela tinha direito somente a um pedido, pois era um gênio muito jovem, tinha somente 2.000 anos de idade e não estava habilitado a realizar mais desejos. A moça então pegou o mapa e mostrou a Faixa de Gaza: ta vendo essa região aqui? Seu povo vive em guerra por muito tempo, mas não entendo esse conflito, poderia me fazer entender?
O gênio procurou todos os jornais e as últimas notícias sobre o conflito no Oriente Médio eram assustadoras, as ofensivas não poupam a população civil que se vê no centro de uma questão não só territorial, mas religiosa e política. Com o mapa nas mãos, indagou: o que você quer saber?

      Qual a origem desse conflito?  As tensões nessa região remetem-se ao primeiro fator de conflito é a disputa pelo território da Palestina, terras sobre as quais palestinos e israelenses têm direitos. Como entender esse contexto? Muito simples, a região da Palestina localizada entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo foi povoada pelos muçulmanos e outras comunidades árabes. Por outro lado, os  judeus tinham sido  expulsos da Palestina pelos romanos na primeira era cristã, e sem a pátria, os judeus dispersos acalentavam o sonho de voltar à terra, e na sua ausência,  a região foi ocupada por outros povos, os quais reivindicam o direito de permanência nesse lugar.


O desejo de retornar à sua terra  fez com que muitos judeus começassem a reocupar a região, começando um processo de migração, além disso, os judeus mais ricos puderam comprar possessões de terras através do governo britânico na época em que a região da Palestina ficou em poder da Inglaterra. Os ingleses também se comprometeram em ajudar os judeus a construir um estado livre e independente no território palestino. As áreas de assentamento foram formalizadas com essa finalidade.

Judeus e palestinos tiveram que conviver num ambiente de disputa e diverso, e um ambiente hostil se estruturou. Após a Segunda Guerra Mundial em 1947 a ONU  estabelece a divisão do território entre judeus e palestinos. Os judeus ocupariam 57%  das terras com seus 700 mil habitantes e os palestinos ocupariam 43% com uma população de 1,3 milhão de habitantes. A conseqüência dessa intervenção foi a Guerra entre Israel e a Liga Árabe. Israel venceu o conflito e ampliou para 75% o domínio sobre as terras da região, área reservada para os palestinos.  Em 1948, a ONU reconhece o Estado de Israel. Existe uma demora em  criar o Estado Palestino, uma das causas do conflito.

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 E a Faixa de Gaza? A Faixa de Gaza fica localizada na Palestina, entre Israel e Egito, concentra hoje uma população de um milhão e setecentos mil habitantes. Toda cercada por muros, durante a semana, uma vez ao dia, é aberta uma passagem para circulação de trabalhadores internacionais e um número limitado de palestinos que autorizados para ajuda médica e humanitária.  Em 1950 essa região ficou sob o controle do Egito, representando os interesses palestinos. Em 1956, Israel tomou a Faixa de Gaza, recuando no ano seguinte devido as pressões internacionais. Mais tarde, em 1967, Israel invadiu Jerusalém, Cisjordânia e a Faixa de Gaza, se recusando a devolver o território aos palestinos.  E para defender a luta palestina, foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), seu líder Iasser Arafat  tinha o apoio do Al Fatah, organização que prega a luta armada e o terrorismo para destruir Israel.

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      O que é a intifada? A intifada tem  sinônimo de revolta, a revolta dos palestinos contra os israelenses .No início da década de 1980, os árabes iniciam a Intifada, rebelião popular em Gaza. Palestinos enfretaram os soldados de Israel nas ruas, e se enfrentam desde então. A comunidade palestina enfrentou os soldados israelenses com pedras e paus.
A Segunda intifada ocorreu após o líder israelense Ariel Saron caminhar pela esplanada das mesquitas e templos considerados sagrados para judeus e muçulmanos, começando uma nova revolta no ano 2000.
Em 2008 o Hamas convocou os palestinos para uma nova intifada

4    Quais os grupos envolvidos nesse conflito? É nesse contexto que devemos conhecer os grupos envolvidos no conflito, que reúne não só a questão política – territorial mas um complexo religioso significativo:

   Fatah – criado em 1950 por Yasser Arafat tem o objetivo de recuperar a totalidade das terras palestinas dos israelenses. De religiosidade muçulmana e sunita, na Cisjordânia.
         Hamas – movimento de resistência islâmica criado em 1987 é contrário á existência de Israel e quer sua destruição. Para o mundo ocidental é conhecido como grupo terrorista, porém é responsável pela administração de escolas e hospitais. De religiosidade muçulmana e sunita, em Gaza.
  Hesbollah – criado no Líbano, buscava resistira á ocupação israelense, busca a criação de um estado islâmico xiita.
   Jihad – criado em 1970, é o braço armado do Hesbollah, prega a constituição de um Estado islâmico na Palestina e destruição de Israel.


5        Existe a possibilidade de um cessar fogo definitivo? O atual conflito na Faixa de gaza já  dura um  mês, quando três jovens israelenses foram encontrados mortos. Israel atribuiu a autoria do sequestro dos jovens ao Hamas, que controla a Faixa de Gaza. A Cisjordânia, controlada pelo Fatah  também foi alvo do ataque israelense. Nos últimos dias, os acordos de cessar fogo foram estabelecidos. França, Reino Unido, Alemanha, Egito são nações que pedem um cessar fogo definitivo. Durante a trégua, as negociações são discutidas, entre elas o fim do bloqueio a Faixa de Gaza e desarmamento dos militantes do Hamas. Até agora o saldo é de 1.900 palestinos mortos e 67 israelenses.




21 de julho de 2014

Tereza de Benguela, mulher preta como eu. Julho é o mês de Tereza, é o mês das pretas.



Historicamente o protagonismo das mulheres negras foi tão invisível quanto sua cor, vítimas do sistema escravista implantado no Brasil, vítimas de uma ditadura racial. Tereza de Benguela, preta, como muitas de nós, mulher, mãe e filha de um povo que sempre lutou por liberdade, por direitos, por seu lugar numa sociedade respaldada em padrões ditados por ideologias que sempre desprezaram as diferenças.  Uma sociedade escravocrata que determinou o uso e abuso de tantas mulheres negras, trazidas e tratadas como propriedade de seus senhores. Mães e filhas pretas como  a noite, onde eram possuídas e defloradas para o prazer carnal do homem branco. Mães que tinham arrancado dos seus peitos o filho nascido para alimentar o filho do senhor, amas de leite, de sangue e de alma. Mulheres guerreiras resistentes, que viviam com o sonho de liberdade, de um dia viverem com dignidade, de serem vistas como seres humanos.  E elas se lançavam na luta, nas fugas para lugares sem algemas, sem o açoite, sem o castigo, sem a violência, onde poderia conviver com seu povo, um lugar só seu.

Tereza era mulher preta, guerreira, foi escrava trazida da África,  fugida, que lá no Mato Grosso viveu com o marido no Quilombo Quariterê, no século XVIII.  Após a morte do seu marido,  a Rainha Tereza assumiu o comando da comunidade. Tornou-se uma líder organizada, estruturou economicamente o Quilombo, organizou o sistema de defesa com armamentos, desenvolveu a agricultura de algodão, fabricando tecidos que eram comercializados fora dos quilombos. A sua comunidade contava com mais de 90 pessoas, e foi administrada com mãos de ferro, visando o bem comum do seu povo. Morreu lutando, nunca negou sua origem.

Rainha negra que passou despercebida, invisível, como muitas mulheres negras que resistem à escravidão de um sistema excludente, que são açoitadas nos troncos dos padrões de uma sociedade que tenta embranquecer suas origens, que sofrem com o preconceito e a discriminação que grita, que agride, que ofende. Uma rainha negra como muitas mulheres negras que assumem o papel de comandar, de estruturar uma sociedade, de defender sua identidade com as armas que possui.

Tereza de Benguela, rainha negra, hoje personificada nas mulheres pretas que protagonizam suas vidas e do seu povo, que vão às ruas lutar contra uma nova escravidão: a econômica. Essa escravidão que destina a população negra discriminação não só racial, mas de classe, uma classe marginalizada.Uma marginalização explícita nas situações de violência, de assistência médica, de acesso à universidade, nos restaurantes, hoteis, locais de trabalho, etc. sujeitas sempre às discriminações raciais e de gênero.

Este mês é para homenagear Tereza e todas as mulheres negras latino-americanas que protagonizam a luta contra a discriminação e o racismo. No dia 25 de julho as vozes negras se levantam para lembrar que permanecemos na luta por uma sociedade mais igualitária, por políticas públicas capazes de melhorar as condições do povo negro, por espaços numa sociedade que ainda teima viver sob o prisma da inferiorização de uma raça, de uma cor. Preta é nossa cor!

11 de maio de 2014

Pelas mães martirizadas... roguemos!







Salve as Marias, mães que devem ser lembradas
Onde as dores e martírios estiveram convosco nas mãos de seus algozes,
Claudia, Fabiana, Sandra Lúcia, Jaci. Marias, mulheres, mães...
Benditos sejam os gritos na defesa dos teus nomes
Benditos sejam os frutos na luta contra os impunes

Santas Claudias, arrastadas e mortas por quem deveriam defende-las
Roguemos por seus filhos, órfãos de um sistema falido, sem carinho, sem amor de mãe.
Santas Fabianas, donas de casa subjugadas, espancadas pela fúria de uma sociedade
Que se encontra perdida, apedrejando a vida de filhos, órfãos de mãe
Santas Sandras, brutalmente assassinadas pelos companheiros
Vítima de uma profunda confusão: amor e obsessão
Santas Jacis, mortas pelos próprios filhos
Escravos da dependência e da violência

Lembremos delas com todo o carinho
Mártires, de um mundo descontrolado
Mães que geraram no ventre homens e mulheres
Desejosas de uma sociedade mais humana
Que seus martírios sejam lembrados

Agora e sempre! 

5 de maio de 2014

BARBÁRIE - Essa não é uma obra de ficção, e qualquer semelhança não é mera coincidência!



Na idade Média uma série de atos punitivos de cunho religioso eram realizados  com perseguições motivadas pela crença de um povo que entendia ser necessário punir que supostamente praticava rituais exotéricos. Estima-se que foram de 40 a 100 mil execuções por ato de bruxaria em quatro séculos.  Nesse cenário de horror, as vítimas eram mulheres, considerando um período de conceitos arcaicos, dominado ideologicamente pela Igreja Católica, prevalecendo uma visão teocrática, onde o ser humano não tinha valor nenhum,  principalmente a mulher.  

A violência era extrema e tudo servia para incriminar uma mulher de bruxaria, participar de revoltas, utilizar de curas alternativas contrariando o poder médico, a sensualidade... Até o erotismo da mulher foi considerado aspecto do mal na sociedade. Muitas mulheres foram conduzidas à fogueira por despertarem interesse sexual, acusadas de desvirtuarem os homens com atos libidinosos.  E tudo isso acontecia em praça pública, para que todos pudessem ver esse espetáculo de horror, atraindo a atenção das pessoas.



Anna Pappenheimer tinha 59 anos, filha de coveiro, casada por 37 anos com um limpador de fossas, teve 7 filhos, dos quais três sobreviveram. Essa família foi denunciada como bruxos por um criminoso condenado. Foram presos, interrogados, torturados com violência extrema e para diminuir o sofrimento admitiram o pacto com o diabo. Anna confessou que havia voado em um pedaço de madeira para ir de encontro ao diabo, que havia feito sexo com seu amante demoníaco, matando crianças para fazer um unguento para passar em seus corpos. Condenados por feitiçaria, os adultos da família foram condenados à morte. Anna teve a pior punição: ela foi despida e os seios decepados e colocados à força na boca de Anna e dos dois filhos, enquanto sofria com uma hemorragia ininterrupta. Alemanha, século XVI.(Jornal do Brasil, 22/03/2014)

E como a população assistia a isso passivamente? Como se deixou influenciar? O povo acreditava firmemente que estava fazendo a coisa certa, porque a Igreja determinava o pensamento daquele período. Motivado pelo medo os atos de violência e crueldade justificavam o elemento causador de toda essa barbárie.


Fabiana Maria de Jesus, 33 anos, morta no Guarujá, litoral paulista, por causa de um boato espalhado na internet, de que havia uma sequestradora de crianças na região.  Fabiana foi amarrada, espancada e arrastada por um grupo de moradores  do bairro Morrinhos, do Guarujá.  Era mãe de dois filhos. São Paulo, 2014. (Folha de São Paulo, 05/05/14)

Hoje estamos diante de uma nova barbárie cinco séculos depois, quando  vemos estampada em manchetes de jornais, nas redes sociais, nos canais de vídeo,  uma série de práticas denominadas de justiça, espalhando uma crueldade sem limites, instigadas por uma  mídia que ideologicamente teima em implantar um pensamento irracional  numa população desacreditada e com medo. Medo de que? Da violência, da impunidade, agem em nome da sociedade, que assiste passivamente a esse tipo de punição exposta pela mídia. Hoje a praça pública foi substituída pela câmera de vídeo, pelos sites e redes sociais.

Josimar Dias de Sena, 18 anos, foi retirado à força de sua casa por homens desconhecidos no dia 17 de abril. De cuecas, amarrado com pedaços de lençol a um poste de energia elétrica, recebeu golpes de fio de cobre. Durante as agressões, suspeito de assalto, foi obrigado a gritar: Nunca mais vou roubar no morro. Os moradores filmaram o espancamento e postaram em rede social.

A ação de justiceiros que  se colocam com poder de polícia nos remete ao período da caça às bruxas, não só pelo modo de operar como pelo fato de pensar que está fazendo o certo, punindo aquele passível de punição, sem o direito de se defender, baseado em denúncias e supostos crimes cometidos.
Na noite do dia 31, um adolescente de 15 anos foi agredido a pauladas e acorrentado nu pelo pescoço a um poste no Bairro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro. Testemunhas afirmaram que o garoto foi agredido por cerca de 30 homens que estavam de moto, porque supostamente teria roubado peças de bicicletas. As fotos e o vídeo foram postados em rede social, alguns aplaudiam e outros repudiavam a essa cena de horror. Canais televisivos fizeram desse ato uma subida nos índices de audiência.

O que percebemos até aqui é que existe um temor da população que fica exposta a qualquer tipo de criminalidade, que não acredita na justiça, que não se sente protegida e pode fazer justiça com as próprias mãos,  começa a agir por conta própria, instigadas por grupos que disseminam a violência e apoiam atitudes como estas. Uma ideologia dominada por uma mídia sensacionalista e manipuladora que convence o agressor de que está correto quando toma em suas mãos a decisão de quem pode viver e quem deve morrer, numa perspectiva punitiva.

Nessa  nova versão de caça à bruxas, a vítimas são os pobres, os pretos e as mulheres. Por que será?

9 de março de 2014

Quem é essa mulher? A puta comunista, transgressora, a militante, a subversiva – mulheres na ditadura militar



“Tenho muitas perguntas na minha cabeça para fazer a esses militares. E quem devia fazê-las? Os políticos. Os deputados, ditos representantes do povo, da gente. Existe político?” (Zuzu Angel)

No último dia 07 foi noticiado pela Agência Brasil, o pedido de desculpas do Estado brasileiro a uma professora, uma psicanalista, uma advogada e uma jornalista, por violências e perseguições sofridas durante a ditadura militar, e vão receber indenizações relativas aos prejuízos materiais que sofreram devido à perda de empregos, exílio e prisão por motivos políticos. Neste mesmo texto, o jornalista Jorge Wamburg relata fatos acontecidos com essas mulheres no período de repressão política vivido no Brasil durante a ditadura, e me chamou a atenção a história da jornalista Lúcia Leão, que foi presa quando tinha 16 anos, passando 30 dias detida no Doi-Codi, em São Paulo, onde testemunhou requintes de tortura contra outros presos políticos. Diate desse fato recente, emerge a necessidade de escrever sobre essa mulher.  

Romper o silêncio imposto sobre a importância dessa mulher num contexto histórico masculinizado como o da ditadura militar, é romper historicamente um ciclo de invisibilidade feminina. Ouvir a voz, o grito, o choro de mulheres que enfrentaram de diversas maneiras estereótipos construídos para diminuir uma consciência política quando as mesmas se engajavam em movimentos e partidos políticos na luta pela democracia.
Onde estão essas mulheres que não ocupam espaço na escrita da história do Brasil? Mulher subversiva era considerada prostituta: a PUTA COMUNISTA. Essas mulheres eram motivo de desonra para a as famílias, pois contrariava toda uma tradição de preparação para o casamento e entrava na militância política “como homens”.
“Até quando haverá no Brasil mulheres que não sabem se são viúvas, os filhos que não sabem se são órfãos, criaturas humanas que batem nas portas implacavelmente trancadas, de um Brasil que julgávamos ingenuamente isento de tais insanas crueldade?” (Tristão de Athayde)
A resistência da mulher à ditadura militar rompeu com padrões tradicionais de gênero, criando como sequência a disseminação da violência e da tortura adquirindo características específicas de violência baseada no gênero. Degradação, humilhação, torturas direcionadas ao corpo feminino foi uma prática adotada pelos militares como uma espécie de aviso oculto “deveria procurar seu lugar, agora aguente.” Estes eram os agentes do Estado brasileiro.
“Funcionários de um Estado de Exceção, que, durante a ditadura militar, tinham licença especial para matar, torturar ou estuprar.  Agentes que viam as mulheres militantes como desviantes, aquelas que renegam sua natureza ousando ocupar o espaço da luta política.” (Susel de Oliveira)
Maria Amélia Teles, foi presa em 1970 junto com seu marido. Era militante do PCdoB. Seus filhos foram levados para a sala de tortura, para presenciar as sessões. Hoje milita pelos direitos de presos políticos e também pelas mulheres.

A necessidade de exposição da figura feminina submetida à tortura, ou aos filhos ou marido/companheiro fazia parte do objetivo de denegrir essa mulher, mostrar o outro lado, deixava de ser vista como mãe, santa, esposa e passava a mostrar a figura desnuda da prostituta, justificando a prática do estupro. Quase todas as mulheres presas foram estupradas pelos agentes do Estado.

Quero encerrar essa postagem/desabafo falando de Lucia Murat, por quem tenho admiração a partir do momento em que tive contato com sua história de militância, sua experiência de tortura nos porões da ditadura, a qual influencia as suas obras. O documentário “Que bom te ver viva!” desconstrói o estereótipo criado para identificar essas mulheres e apresenta a força, convicção, resistência e superação dessas mulheres que acreditaram que podiam mudar o país. Meu respeito e admiração pela coragem. Essas mulheres não devem ser esquecidas pela nossa história.




 REFERÊNCIAS
"Eu, Zuzu Angel, procuro meu filho", de Virgínia Valli.







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