21 de julho de 2014

Tereza de Benguela, mulher preta como eu. Julho é o mês de Tereza, é o mês das pretas.



Historicamente o protagonismo das mulheres negras foi tão invisível quanto sua cor, vítimas do sistema escravista implantado no Brasil, vítimas de uma ditadura racial. Tereza de Benguela, preta, como muitas de nós, mulher, mãe e filha de um povo que sempre lutou por liberdade, por direitos, por seu lugar numa sociedade respaldada em padrões ditados por ideologias que sempre desprezaram as diferenças.  Uma sociedade escravocrata que determinou o uso e abuso de tantas mulheres negras, trazidas e tratadas como propriedade de seus senhores. Mães e filhas pretas como  a noite, onde eram possuídas e defloradas para o prazer carnal do homem branco. Mães que tinham arrancado dos seus peitos o filho nascido para alimentar o filho do senhor, amas de leite, de sangue e de alma. Mulheres guerreiras resistentes, que viviam com o sonho de liberdade, de um dia viverem com dignidade, de serem vistas como seres humanos.  E elas se lançavam na luta, nas fugas para lugares sem algemas, sem o açoite, sem o castigo, sem a violência, onde poderia conviver com seu povo, um lugar só seu.

Tereza era mulher preta, guerreira, foi escrava trazida da África,  fugida, que lá no Mato Grosso viveu com o marido no Quilombo Quariterê, no século XVIII.  Após a morte do seu marido,  a Rainha Tereza assumiu o comando da comunidade. Tornou-se uma líder organizada, estruturou economicamente o Quilombo, organizou o sistema de defesa com armamentos, desenvolveu a agricultura de algodão, fabricando tecidos que eram comercializados fora dos quilombos. A sua comunidade contava com mais de 90 pessoas, e foi administrada com mãos de ferro, visando o bem comum do seu povo. Morreu lutando, nunca negou sua origem.

Rainha negra que passou despercebida, invisível, como muitas mulheres negras que resistem à escravidão de um sistema excludente, que são açoitadas nos troncos dos padrões de uma sociedade que tenta embranquecer suas origens, que sofrem com o preconceito e a discriminação que grita, que agride, que ofende. Uma rainha negra como muitas mulheres negras que assumem o papel de comandar, de estruturar uma sociedade, de defender sua identidade com as armas que possui.

Tereza de Benguela, rainha negra, hoje personificada nas mulheres pretas que protagonizam suas vidas e do seu povo, que vão às ruas lutar contra uma nova escravidão: a econômica. Essa escravidão que destina a população negra discriminação não só racial, mas de classe, uma classe marginalizada.Uma marginalização explícita nas situações de violência, de assistência médica, de acesso à universidade, nos restaurantes, hoteis, locais de trabalho, etc. sujeitas sempre às discriminações raciais e de gênero.

Este mês é para homenagear Tereza e todas as mulheres negras latino-americanas que protagonizam a luta contra a discriminação e o racismo. No dia 25 de julho as vozes negras se levantam para lembrar que permanecemos na luta por uma sociedade mais igualitária, por políticas públicas capazes de melhorar as condições do povo negro, por espaços numa sociedade que ainda teima viver sob o prisma da inferiorização de uma raça, de uma cor. Preta é nossa cor!

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